As otites são mais frequentes nas crianças? Porquê?

As otites, nomeadamente as que afetam o ouvido médio (por detrás do tímpano), são tendencialmente mais frequentes em crianças do que em adultos e existem algumas razões cientificamente comprovadas para que assim seja, nomeadamente:

– A anatomia do ouvido da criança favorece a acumulação de líquido no ouvido e a entrada de bactérias ou vírus provenientes da garganta. Isto deve-se uma estrutura que conecta o ouvido à garganta que se chama Trompa de Eustáquio (esquematizado nas figuras abaixo) que nas crianças  é mais curta e mais horizontalizada do que nos adultos .

Criança
Adulto

– O próprio sistema imunológico da criança ainda se encontra em desenvolvimento, pelo que apresentam uma resposta imune menos eficiente às infeções, tornando-as mais suscetíveis a doenças como otites. Adicionalmente, as crianças estão em constante exposição a novos germes e patógenos, o que estimula o sistema imunológico a desenvolver defesas específicas contra esses agentes infeciosos. Esse processo de fortalecimento do sistema imunológico ocorre ao longo do tempo, pelo que as otites podem ser mais comuns durante a infância.

– As crianças estão maioritariamente em ambientes onde há maior exposição a vírus e bactérias, como creches e escolas. Nestes ambientes, o contacto próximo com outras crianças aumenta o risco de propagação de infeções e, adicionalmente, as crianças tendem a colocar objetos e mãos sujas na boca o que facilita a entrada de microrganismos. Muitos desses microrganismos podem causar infeções no ouvido médio.

– O uso de chupetas, muito frequente em crianças, pode também interferir com a drenagem adequada da trompa de Eustáquio, levando ao acúmulo de fluidos no ouvido médio que pode ser um ótimo meio para o crescimento de bactérias.

Ainda assim, é importante ressalvar que nem todas as crianças desenvolvem otites e que os adultos também podem apresentar este tipo de infeções. No entanto, devido aos motivos acima mencionados, muito específicos das crianças, este tipo de infeção é, de facto, mais frequente em idade pediátrica.

Dra Cátia Azevedo, 

Otorrinolaringologista no Hospital de Braga, EPE